Quando criança, na 5ª série do fundamental, tive a oportunidade de estudar com quatro companheiros, portadores de deficiência visual: João, Rosemberg, Isael e Valdir. Todos muito alegres e determinados.
Éramos do mesmo grupo de estudos e, sempre que havia uma tarefa escolar mais rebuscada, fazia o que estava ao alcance dos meus onze anos, para lhes ajudar na sua realização. Não havia, naquele tempo, a sofisticação tecnológica dos computadores de hoje. A dificuldade era grande para eles. Lembro-me de muitas vezes, durante as aulas, ditar-lhes, em voz baixa, o conteúdo que estava sendo ministrado pelo professor, enquanto eles iam escrevendo habilidosamente , em braile, o que conseguiam apreender de meu ditado tosco de menina.
Com eles, soube o que é valorizar a vida no que ela tem de essencial... descobri que enxergar é um jeito de transcender...
O tempo se encarregou de nos tornar crescidos , e a vida nos levou por caminhos diferentes... Mas nunca me perco da lembrança desses meus amigos... nem da visão que me proporcionaram com sua LUZ INTERIOR... ******
O poeta AFFONSO ROMMANO DE SANT'ANNA, certa vez, escreveu um poema, homenageando um amigo deficiente visual. Transcrevo-o a seguir:
Meu amigo lê Grande Sertão: Veredas
em braile.
Que iluminação de paisagens no interior! Pelos dedos
ele ouve o liso do Sussuarão, pelos dedos
atravessa a nado o rio Chico, pelos dedos
apalpa a tez de Diadorim, penetra a fenda
da paixão.
Pelos dedos, em braile, meu amigo
colhe o sertão
- na palma de sua mão.
( Este "post" dedico ao amor de MARILAC e MANUEL, com profunda admiração...)
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