quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A PROFECIA



[ Enquanto os "civilizados" seguem desrespeitando
a vida, os ditos "selvagens" nos ensinam a reverenciá-la em sua essência...]


Caraíbas têm cabeça oca. Deviam ter aprendido muitas lições com o povo filho da terra e não souberam enxergar, nem ouvir, nem sentir. E sofrerão por isso.
Dia virá em que ficarão com sede, muita sede, e não terão água para beber; os rios e lagoas e valos e regatos e até a água da chuva estarão sujos e pobres. E chorarão. E continuarão com sede, porque a água do choro é salgada e amarga...
O tempo da fome também virá. E a terra estará seca, o chão duro. As sementes do milho e a mandioca não mais nascerão verdes, alimentando a esperança de quarups ao redor do fogo com muita comida e bebida. A caça e peixe também terão fugido ou morrido. E a fome apertará o estômago do caraíba, e ele não poderá comer nem sua riqueza, nem sua terra nua e estéril.
Os dias serão sempre mais quentes. E quando o caraíba procurar uma sombra como abrigo, descobrirá que a terra não tem mais árvores.
As noites serão escuras e frias. Sem lua, sem estrelas. E sem fogueiras quentes.
E o caraíba, o homem-branco, chorará. E quando acordar de sua imensa estupidez, será tarde, muito tarde.
Eu, Tamãi, o velho pajé, falei.
(ZOTZ, Werner. Apenas um curumim. 20. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1995. p.14)


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