sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O MELHOR AMOR

[ Para que o AMOR, em nós,
seja FONTE DE VIDA!...]

Uma vez ouvi alguém dizer: " O melhor amor é aquele que provoca em nós os nossos melhores sentimentos." Isto já tem mais de trinta anos, a frase ficou grudadinha na minha memória.
Retomo-a agora. É uma frase intrigante. Primeiro porque instila a idéia de que existe um "melhor amor". Se assim é, então deve existir também um "pior amor". Isto desestabiliza a idéia de que o amor é sempre uma coisa una e indivisível, que é em si sempre algo sublime, fora de nós, e que certos amantes é que não sabem como lidar com ele.
Ocorreu-me de novo aquela frase, porque alguém ( há sempre alguém nos dando frases de presente ), numa conversa banal, disse que fulano era especialista em murchar mulheres. Havia casado umas três vezes e o que eram namoradas viçosas e apetecíveis transformaram-se em cinzas e apagadas matronas olhando a vida como um trem que se afastasse deixando-as murchas na estação.
Tem gente, portanto, que tem DNA de sanguessuga. Crava o dente na alma do outro e a esvazia. No entanto, a convivência amorosa deveria trazer vida, alegria, comunicabilidade, enfim, despertar em cada um o que cada um de melhor tem.
Em Belo Horizonte, houve uma miss Brasil esfuziantemente linda, que casou com um empresário e obnubilou. É essa a palavra que me ocorre, e - como dizia o mestre Aurélio - a gente tem que dar oportunidade às palavras. A moça enevoou-se, apagou-se, sumiu do mapa, seqüestrada na tristeza. Obnubilou-se.
Alguém vai dizer: "Isto também ocorre do lado feminino." E eu não sei? Já não vimos aquele filme com a Marlene Dietrich, O anjo azul, em que "a mulher fatal", como uma aranha no cio, uma gafanhota perversa, vai destruindo o indefeso e apaixonado professor?
Picasso foi um grande, imenso exemplo de destruidor de mulheres. Algumas se matavam, outras iam enlouquecendo. Isto pode ser revisto naquele filme tirado do livro que uma de suas mulheres escreveu. Aliás, se acharem suspeitos os depoimentos expressos pela vida de suas sete esposas oficiais, basta considerar a frase que Paul Éluard - poeta francês contemporâneo do pintor - certa vez disse depois de fazer um exame de caligrafia daquele minotauro amoroso: "Picasso ama intensamente, mas ele destrói quem ama."
Portanto, se há um "melhor amor" e um "pior amor", há amor que mata e amor que vivifica. Por isto, alguém pode indagar: "Por que há gente que fica presa ao 'pior amor'? Por que sofre de insônias? Por que fica grudada no telefone que não toca? Por que continua dando presentes e recebendo rejeição de volta? Por que tolera certas humilhações públicas e íntimas?"
É que nem sempre se pode sair de um pântano, de uma areia movediça, sem agarrar-se a um galho, uma corda ou outro tipo de socorro. E as neuroses são como o cigarro. O fumante, mesmo sabendo que aquele vício mata, nem sempre consegue dele se libertar. E assim como quem já deixou a bebida sabe que não se deve tomar um trago nem por brincadeira, quem já sofreu burramente por causa de um amor ruim deve precaver-se.
O melhor amor é aquele que desperta em nós os nossos melhores sentimentos. Aí, então, nossa pele remoça, os olhos brilham e somos capazes de atravessar os anos numa fecundante aura.
Affonso Romano de Sant'Anna
em "Tempo de Delicadeza"

( Imagem de autoria desconhecida )

2 comentários:

Marilac disse...

Rose,
O amor que é amor desperta nossos melhores sentimentos e nos faz sorrir para a vida!
Belo texto, fiquei pensando em quantas pessoas murcham por causa de relacionamentos que vão destruindo sonhos, auto estima e causam danos por vezes quase irreparaveis.

Affonso Romano de Sant'Anna explicou muito bem !

Acabei de comentar no blog da Ana Jácomo, ela também escreveu sobre o amor!

bjs
Marilac

Irmão Sol, Irmã Lua disse...

“Sorella”,
Amor verdadeiro ou, na palavra do escritor, “o melhor amor” é aquele que só quer bem, que doa sempre e por nada espera, e nisto está à essência de sua vida. É o que liberta e que se alegra com a felicidade do outro, mesmo que distantes. É o que compreende e sente que a simples capacidade de tê-lo consiste em algo precioso que deve ser preservado, encontrando ai a vida e vida em abundância. Pois como afirmou certa vez o “Poverello”, a única coisa que temos de realmente nosso é o Amor e a capacidade de tudo realizar e superar por Amor, porque tudo mais é empréstimo de Deus.
O outro “amor” ou o “pior amor” é fruto do egoísmo, da deturpação dos sentimentos e valores.
Carinho do irmãozinho,
Benja.

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