segunda-feira, 5 de maio de 2008

DOIS OLHARES


VERSOS ÍNTIMOS


Vês? Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) -
"Nasceu na Paraíba, estudou Direito em Recife e
viveu no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Como poeta, sua obra é de grande originalidade.
Apresenta, na verdade ,uma experiência única na literatura universal:
a união do Simbolismo com o cientificismo naturalista. Por isso,
dado o caráter sincrético de sua poesia, convém situá-lo entre os pré-modernistas."




A INGRATIDÃO

Não deixa a ingratidão, essa vadia,
Fazer morada no teu coração...
Contaminar a tua poesia...
Sair despedaçando a tua razão...

E mesmo quando, por hipocrisia,
O beijo de carinho for traição
E a mão gentil que afaga e acaricia
Apedrejar-te sem explicação,

Não deixa a ingratidão, coisa pequena,
Fazer morada no teu poema
Contaminando a tua emoção...
Supera a ingratidão. Não vale a pena...
A ingratidão é como uma gangrena...
Lança teu vôo e alcança a imensidão...


LUÍS ALBERTO MUSSA TAVARES -
"Nasceu em Campos dos Goytacazes ,RJ,em 6 de setembro de 1959."
E "desde criança se encantou pela arte de rabiscar versos.
Nunca desistiu.
Nem dos versos, nem da vida, nem de torcer pelo Fluminense."
"Médico formado pela UFRJ,
trabalha como pediatra em sua cidade há vinte anos."
"Vive cercado de versos e canções."











3 comentários:

Irmão Sol, Irmã Lua disse...

Querida menina,
Ofereço Mais um Olhar:

“Nunca mais me esqueci! ... Eu era criança
E em meu velho quintal, ao sol-nascente,
Plantei, com a minha mão ingênua e mansa,
Uma linda amendoeira adolescente.

Era a mais rútila e íntima esperança...
Cresceu... cresceu... e aos poucos, suavemente,
Pendeu os ramos sobre um muro em frente
E foi frutificar na vizinhança...

Daí por diante, pela vida inteira,
Todas as grandes árvores que em minhas
Terras, num sonho esplêndido semeio,

Como aquela magnífica amendoeira,
Florescem nas chácaras vizinhas
E vão dar frutos no pomar alheio...”
(Ingratidão - Raul de Leoni)

Ingratidão, talvez um dos piores pecados da humanidade.
Os versos de Augusto são fortes e incisivos, pessoalmente prefiro buscar “supera a ingratidão” como diz Luís; pois é preferível sempre procurar oferecer a outra face como nos pede o Cristo.
Carinho do amigo,
Benja.

Quasepoesia disse...

A ingratidão, amiga, é como erca daninha, cancer descoberto muito tarde...
Quando se percebe já é metástase pura, já é imenso o dano que provoca...
Meu amigo Benjamin está certo quando busca superar a ingratidão através do olhar terno e agradecido para com a vida.
A vida é uma queda dágua inteira de dádivas e delicadezas.
Buscar a mesquinhez e aplicar à vida a ingratidão pelo tanto silenciosamente recebido é névoa na alma e nódoa no coração que o impede de pulsar com alegria.
Somente os homens gratos possuem o dom de ser homens felizes.
Com carinho
Seu amigo
Luis.

Ela disse...

A gratidão é que nos torna forte, nos faz amigos, nos torna mais gente.
Ser grata a todos, pequenos e grandes gestos.

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